De bonde no Brasil e pelo mundo

Lúcia, minha irmã, e eu acordávamos bem cedo para pegar o bonde na Rua Ceará, que nos levaria até a Avenida Paraúna, hoje Getúlio Vargas, para as aulas do Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Ida e volta sem nenhum perigo a não ser o fato de eu estar no estribo, fora do bonde, só para mostrar que eu era “o bom”. Ela, sentadinha nos grandes bancos de madeira, seguia firme e sem nenhuma estripulia. A passagem custava “um tostão”, menor divisão da moeda na época, e Belo Horizonte era atravessada de norte a sul e de leste a oeste pelos trilhos que ofereciam conforto e pontualidade aos seus usuários.
Alguns anos depois, fazíamos o trajeto pela Rua Teodoro Sampaio nos “camarões”, apelido dos bondes vermelhos de São Paulo na década de 1950, que nos conduziam ida e volta até o Ginásio Castro Alves, já comigo mais seguro, pois os bondes eram fechados e sem estribos. Íamos também de bonde para o centro da cidade até a Praça Ramos de Azevedo e Rua Barão de Itapetininga para ver as vitrines do Mappin, única loja de departamentos, além da Sears num outro bairro.
E mesmo no Rio, durante uma temporada, trafegávamos nos bondes da Avenida Nossa Senhora de Copacabana até o Leme, que depois seguiam até o centro da cidade, na Avenida Rio Branco. Ipanema e Leblon ainda não tinham linhas de bonde e a Barra era um matagal inóspito.
Os bondes eram, sem dúvida, as conduções que atendiam a todas as direções que o passageiro quisesse ir.
Mas, eles foram saindo de circulação e os automóveis e os ônibus foram tomando os seus lugares até que, surpresa minha, lá estavam eles em San Francisco, na Califórnia/EUA, quando resolvemos ir da Market Street até a Lombard, para conhecer a “rua das flores”. De lá, ainda, até Fisherman’s Wharf para um bom peixe à Califórnia no Pier 32.
Trafeguei ainda outro dia num bonde em Frankfurt, na Alemanha, onde eles são o principal meio de transporte. A cidade, centro do comércio/indústria da Alemanha, também adotou os bondes, grandes e fechados, que são rigorosos no cumprimento de seus horários para atender moradores e turistas.
Com saudade dos bondes, quero registrar o meu pesar pelos atuais sistemas de transporte público tão precários, com custo alto, e quase sempre em greve.
“O TEMPORA, O MORES’

Autor: Roberto Hermeto Brandão

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