Um novo dia

Começar novos projetos após os sessenta anos pode parecer estranho a muitas pessoas. Afinal, a expectativa média de vida para os brasileiros está em 73 anos para homens e 79 para mulheres, numa média geral de 76 “primaveras” aqui.

É bem verdade, no entanto, que, para uma parte especial da população, as Pessoas com Deficiência (PcD), esse número é bem menor. Ainda que se considere que os níveis de melhoria nas condições de vida, dos tratamentos, da afluência a bens, serviços e equipamentos públicos tenham ampliado seu tempo de vida. Também contribuiu para esse aporte, a disponibilização de informações sobre cuidados, prevenção e acessibilidade mais segura. Para as PcD, segundo estudos publicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a projeção pode chegar a 20 anos menos em determinados casos. Numa média ampla, o número fica entre 13 e 20 anos a menos na expectativa de vida desse grupo.

Os dados são corroborados pela Federação Brasileira das Associações de Profissionais de RH e Gestão de Pessoas (FHERS) e ainda, observe-se, dependendo das condições ambientais em que as PcD estejam inseridas, a expectativa pode ser de apenas 50% em relação ao tempo de vida esperado para a média dos brasileiros. Vários fatores concorrem, para uma estatística tão assustadora. Entre eles, o atentar contra a própria existência. Pesquisas indicam que o número de pessoas que buscam – e alcançam – esse intento é quatro vezes maior do que na média da população. Importa também observar que a proporção pode ser bem pior pelo fato de algumas deficiências serem impeditivas para esta ação de autoextermínio. Nestes casos, a consecução da finalidade dependeria do concurso de terceiros. Para entender melhor a extensão de tamanho desespero, recomendo assistir ao premiado filme “Menina de Ouro” (Million Dollar Baby/2005), direção de Clint Eastwood, com Hilary Swank e Morgan Freeman.

Por outro lado, há tentativas de amenizar as adversidades enfrentadas pelas PcD, em seu cotidiano, mesmo que, a princípio, o propósito seja fazer graça simplista com as diferenças. Como se observa em uma famosa música da década de 1970, do saudoso comediante Ary Toledo, que nos deixou em 2004:
“Linda, meu bem”.

Na canção satírica e burlesca, o cantor descreve uma pessoa muito distante dos padrões estéticos de seu tempo e com algumas deficiências evidentes. No entanto expressa seu gostar por ela, “apesar” das condições e atributos físicos da “amada”. Mas, será que a pessoa jocosamente descrita se sentiria acolhida ou “tolerada”? Difícil saber, pois dependeria de analisar um sem-número de variáveis que formaram a personalidade do “bem” na música.

Some-se a todo esse acervo de problemas as dificuldades inerentes ao passar dos anos. O desgaste para as PcD, naturalmente, se mostra mais consistente em razão das fragilidades que lhes são intrínsecas e, portanto, do esforço mais exaustivo a que estão sujeitos em sua jornada de vida.

Valorizar cada instante e tornar mais prazerosos os dias, implica buscar opções de aprendizado e de desenvolvimento e, talvez, longevidade amena e feliz. E sonhar sempre um novo dia.

Mário Sérgio Rodrigues Ananias é Escritor, Palestrante, Gestor Público e ativista da causa PcD. Autor do livro Sobre Viver com Pólio.

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