Credibilidade
Para conferir valor a um determinado produto importado, numa propaganda de eletrônicos, quando perguntado pela garantia, o vendedor respondia com claro sotaque castelhano: “- La garantia soy jo!“. A própria aparência daquele fornecedor era um estereótipo do “muambeiro” paraguaio. Indicação de que
aquele produto teria sua origem na cidade fronteiriça à bela Foz do Iguaçu: Ciudad del Este e que não mereceria qualquer respaldo. Será necessário um longo tempo para que essa pecha de comerciantes de produtos falsificados, chamados de “segunda linha” e de baixa qualidade, seja desconectada de
quaisquer produtos advindos daquele País. Eletrônicos, brinquedos, cigarros, bebidas e até medicamentos vindos de lá, não parecem merecer confiança. 
Fazendo um exercício de analogia, há quem entenda, ignorando a razão, que PcD são incapazes de quaisquer atividades laborais, presumindo equivocadamente, por extensão, que uma atividade intelectual não seja possível a quem tenha um problema físico ou sensorial. Esta percepção equivocada de
incompatibilidade é um dos grandes desafios que esse recorte social ainda precisa enfrentar, mesmo com tantas tecnologias e informações disponíveis.
Nesse mesmo diapasão, vemos hoje a proposta de se criar uma moeda internacional administrada por um bloco de países que não refletem, mesmo entre eles, qualquer confiança de harmonia. Não se observa convicção para sustentação da indispensável garantia jurídica, institucional ou política. São
países que não avaliam renunciar, como ocorreu com nações europeias, a algum ponto menor de soberania, para conquistar, em prol de seus povos, a estabilidade coletiva. E isso, para aqueles países, representou ganho gigantesco, mas que só funciona onde haja liberdade para crescer e desenvolver, na medida em que o respeito ao contraditório se sustente em transparência e accountability, gerando estabilidade coletiva. Para além dessa percepção, o que se tem é um delírio inconsequente, pessoal ou partidário, que representa uma vontade sem lastro sólido.
Ao mercado internacional, altamente profissionalizado e em constante evolução no que concerne à convergência regulatória, não interessa negócios baseados em sandices. O risco real de escassez, portanto, sujeita a todos, indiscriminadamente, quando um pequeno grupo, alçado ao poder, busca calar
a voz divergente apenas para preservar, a qualquer custo, seu status quo.
É impossível coadunar qualquer consistência em governança com ambientes que tendem ao autoritarismo, pois não há disciplina fiscal e nem a possibilidade de auditoria séria, independente, nas contas públicas.
E o que dizer de uma estrutura jurídica enviesada, tendenciosa, que trata claramente o que é público de forma personalíssima? Essa mesma que, em suas mais altas instâncias, age ao arrepio da lei, chegando mesmo a receber sanção internacional e responde à nação com gestos inconciliáveis com o mínimo de
decoro que se espera de qualquer magistrado?
Uma das primeiras provocações à falta de credibilidade atribuída ao país vizinho, imagino, surgiu no filme “A Fantástica Fábrica de Chocolate” (2005), em que a equipe do personagem Willy Wonka (Johnny Depp) identifica que um bilhete, falsificado por um concorrente invejoso buscando acesso à sua fórmula, teria sido encontrado… no Paraguai.
Toda a falta de conhecimento, de dignidade, de gestão honrada, mina a credibilidade.

Mário Sérgio Rodrigues Ananias é Escritor, Palestrante, Gestor Público e ativista da causa PcD. Autor do livro Sobre Viver com Pólio.
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