O que é o ‘Domo da Orgia’, do festival libertário Burning Man

Tenda reúne milhares de adeptos do ‘sexo livre’ no festival realizado em deserto de Nevada, EUA, mas corre risco de não funcionar nesta edição; influencer já foi expulsa da atração

Um dos pontos altos e mais controversos do Burning Man, festival libertário de contracultura que está acontecendo em deserto de Nevada (EUA) até 1º de setembro é o “Domo da Orgia”, que foi seriamente danificado (bem como muitas outras tendas) em decorrência de uma tempestade de areia nesta semana. A organização do evento teme não conseguir consertar a estrutura a tempo de ela ser usada nesta edição do festival. Há ainda a possibilidade de um outro local abrigar as atividades que seriam realizadas no domo original.

Em redes sociais, participantes do Burning Man se mostraram bastante desapontados com o estado do domo — alguns disseram que ele era a razão de estarem no evento.

“O deserto está sempre tentando te matar”, postou um folião no Instagram.

Um outro internauta celebrou:

“É Jesus salvando as pessoas de pegarem infecções sexualmente transmissíveis”.

Mas do que se trata essa atração? Na edição do ano passado do evento, cerca de 5 mil foliões estiveram no domo. Lá, os participantes podem ter encontros íntimos com múltiplos parceiros dentro da enorme tenda repleta de colchões, cortinas, sofás e almofadas. A entrada exige a presença acompanhada de um ou mais parceiros.

Os organizadores do Burning Man promovem o “Domo da Orgia” como um “ambiente seguro, consensual, positivo em relação ao sexo, inclusivo e exploratório”, com muitos participantes elogiando o precioso ar-condicionado. Recomenda-se que os apostadores levem lenços umedecidos e luvas. Sexo seguro é obrigatório e toda prática precisa ser consensual.

“O Burning Man chama muita atenção por ser uma orgia hedonista movida a drogas no deserto, mas há muito mais do que isso”, disse à BBC a londrina Katherine Blackler, que participou de sete edições do evento.

Participantes que não obedecerem as diretrizes do domo serão expulsos, podendo ser obrigados até a deixar Black Rock City, a cidade sazonal erguida para receber o festival.

A modelo e influenciadora de golfe Bri Teresi foi uma das “convidadas” a deixar o domo, mas não pode deixar de cumprir regras de segurança.

Em entrevista ao podcast Sex Within An Hour, ela relembrou o episódio que classificou como “constrangedor”, descrevendo um “cheiro ruim” e testemunhando “atos repugnantes” antes de ser mandada embora.

“Fui ao Burning Man alguns anos atrás. Conheci um grupo de pessoas, estávamos curtindo e o cara disse ‘vamos para a tenda de orgia’ e eu disse ‘OK, vamos lá’. Estávamos esperando numa fila e todos estavam pedindo para assinarem formulários de consentimento. Um cara estava comigo e uma outra garota, e ela era muito atraente. Eu e garota começamos a nos beijar. Olhamos para o cara pensando: ‘Desculpa’. Era tão nojento lá dentro, tinha gente fazendo coisas nojentas”, relatou Bri. “O cheiro era tão ruim que eu pensei: ‘Não vou fazer isso’ e ‘A garota não vai fazer aquilo’, então ficamos só assistindo e rindo muito porque era ridículo”, acrescentou ela.

A influencer acabou ejetada do “Domo da Orgia” por causa da passividade.

“Se você não participa, precisa ir embora”, sentenciou uma pessoa na tenda.

Apesar da experiência desagradável de Bri, outros foliões elogiam as atividades no domo e a sua organização espacial.

“Algumas áreas são destinadas a casais, e outras seções são rotuladas como ‘abertas para mais’, o que significa que esses casais podem ser abordados por outros que queiram participar”, explicou um participante à revista “Cosmopolitan”.

O que é o ‘Burning Man’

O “Burning Man” dura nove dias. O evento é realizado desde 1986, quando ocorreu numa praia de São Francisco (Califórnia, EUA) com um grupo de pessoas que se reuniu para queimar uma figura de madeira no solstício de verão. Ele se mudou para o deserto em 1990 e esgotou os ingressos pela primeira vez em 2011. Houve um hiato de dois anos por causa da pandemia de Covid-19.

O festival reúne dezenas de milhares de participantes de dentro e fora dos EUA interessados em experimentação comunitária e social, com foco em arte, autoexpressão e cultura. Um dos destaques do evento é o “Domo da Orgia”, que reúne adeptos do “amor livre” 24 horas por dia, com exigência de sexo seguro. Os participantes se comprometem a limpar o local e deixar o deserto nas mesmas condições (ou melhores) em que o encontraram. Muitos consideram o “Burning Man” uma experiência transformadora que vai além de um simples festival.

“Diversas agências policiais patrulham Black Rock City, e você corre o risco de ser multado, preso ou despejado se infringir a lei. O Burning Man não promove nem tolera atividades ilegais de qualquer tipo”, alerta a equipe de produção do festival.

Os 10 princípios do Burning Man

• 1. Inclusão. “Todo mundo pode fazer parte do Burning Man. Damos as boas-vindas e respeitamos o desconhecido. Não existem requisitos para participar da comunidade”.
• 2. Economia do presente. “Dar um presente não significa que deva existir uma troca por algo de valor igual”, esclarecem as regras do festival.
• 3.Desmercantilização. “Queremos criar um entorno sem patrocínios comerciais, transações e anúncios”.
• 4.Autossuficiência. “O Burning Man ajuda o indivíduo a descobrir, exercer e depender de seus próprios recursos”.
• 5.Liberdade de expressão.
• 6.Esforço comum. “Valorizamos a cooperação e a colaboração. Queremos criar conexões, espaços públicos e arte que ajudem na interação”.
• 7.Responsabilidade cívica. Os participantes devem respeitar a lei e assumir responsabilidade por suas ações.
• 8.Não deixar marcas. “Nós nos comprometemos a não deixar rastro de nossas atividades. Limpamos e tentamos deixar os locais melhores do que quando os encontramos”.
• 9.Participação. “Todos são bem-vindos para trabalhar e brincar”.
• 10.Imediatismo.

*Com informações de Extra