Careca do INSS repassou R$ 5 milhões para publicitária de campanhas do PT, aponta Coaf
Defesas afirmam que dinheiro foi transferido para a compra de um imóvel
O empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, repassou à publicitária Danielle Miranda Fonteles R$ 5 milhões entre novembro de 2023 e março de 2025. As informações constam em um Relatório de Inteligência Financeira (RIF) elaborado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e enviado à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do INSS. Danielle já prestou serviços a campanhas eleitorais do PT, como a eleição da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2010.
De acordo com as defesas de Antunes e Fonteles, o pagamento foi parte da compra de um imóvel, em uma negociação que acabou não se concretizando. O caso foi revelado pela revista “Veja” e confirmado pelo GLOBO.
O Coaf elabora relatórios quando encontra transações que são consideradas suspeitas, de acordo com parâmetros definidos em lei. A identificação de uma movimentação do tipo não representa ilegalidade, mas um indício que pode ou não ser confirmado em uma investigação.
Em sessão da CPI nesta quinta-feira, o senador Sergio Moro (União-PR) afirmou que vai apresentar um requerimento pedindo a quebra de sigilo bancário e fiscal da publicitária e, posteriormente, defenderá a convocação dela.
O relatório destaca que Fonteles foi sócia da Pepper Comunicação Interativa, empresa que foi investigada pela Polícia Federal na Operação Acrônimo, que apurou esquema de lavagem de dinheiro para campanhas eleitorais. A empresa foi fechada em julho de 2023.
O Coaf destaca que uma verificação de antecedentes feita pelo banco em que a publicitária tem conta identificou que Antunes “apresenta histórico de envolvimento em fraudes previdenciárias, figurando como parte em investigação por irregularidades no INSS contexto que, por si só, já acende alerta relevante”.
A empresária disse em nota que o dinheiro é parte da negociação por um imóvel em Trancoso, distrito de Porto Seguro (BA). Ela acrescentou que o contrato de compra e venda previa o pagamento em 13 parcelas de R$ 1 milhão, mas a quitação total não chegou a acontecer porque Antunes teve as contas bloqueadas, o que ocorreu no curso da investigação sobre as fraudes. Assim, a rescisão do acordo ocorreu em maio deste ano.
“Os valores pagos e recebidos por Danielle Miranda Fonteles estão declarados à Receita Federal e os impostos pertinentes foram devidamente recolhidos. Portanto, o repasse refere-se a uma transação comercial devidamente documentada. Cabe acrescentar que Danielle Miranda Fonteles não tem relações comerciais com o Partido dos Trabalhadores desde 2015, portanto há pelo menos 10 anos”, completou. Segundo ela, o distrato prevê que os valores pagos serão devolvidos quando a casa for vendida.
A defesa de Antunes também afirmou que as transferências eram relativas a uma compra que não foi concretizada. O contrato prevê que os R$ 5 milhões já pagos por ele serão devolvidos quando a casa for de fato vendida.
Delação premiada
A Pepper, agência que tinha Fonteles como sócia, foi alvo da Operação Acrônimo, que foi deflagrada em 2015 e investigou um esquema de repasse de caixa dois a campanhas políticas.
No inquérito, a Polícia Federal concluiu que a agência de comunicação foi usada para captar ilegalmente R$ 1,5 milhão via caixa dois para a campanha do ex-governador Fernando Pimentel (PT) ao Senado em 2010. Na ocasião, ele negou as acusações.
Fonteles chegou a fechar uma delação premiada no âmbito da Operação. Em sua colaboração, ela declarou que chegou a pagar propina para obter contratos de publicidade em ministérios.
Em depoimentos ao Ministério Público Federal, dirigentes de uma empreiteira afirmaram que pagaram despesas de fornecedores da campanha eleitoral de Dilma em 2010, sem que os gastos tenham sido devidamente registrados na prestação de contas apresentadas à Justiça Eleitoral. Entre as empresas beneficiárias, estava a Pepper Comunicação.
Editorial
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2 Comments
Bom esclarecimento da revista!
Esta revista Pepper, está entre os poucos veículos isentos e democráticos que restaram no País.
A questão aqui é que há nomes similares entre as empresas. Como é o caso do excelente cantor e compositor Peninha e aquele deplorável cidadão que comemora um assassinato como se fosse o gol de seu time preferido. Não se confunda alhos com bugalhos.