A sociedade mudou e vai mudar muito mais
Se para os conservadores o mundo anda moderno demais, com liberdade demais e tolerância demais, é bom que se preparem para uma nova revolução de hábitos, cultura, costumes e convívios sociais. Ao olharmos a sociedade humana, ao longo dos séculos, só uma certeza ficará – mudamos nossos sistemas sociais permanentemente. Faz de nós, pobres humanos, laboratório permanente de nossas próprias inseguranças, dúvidas e incertezas. Para confundir tudo criamos a tecnologia, que tem o poder de transformar nosso já não tão pacato ambiente numa guerra de informação e desinformação. A nova sociedade em rede, que ultrapassou fronteiras e limites dos indivíduos, tornou nossa aldeia num enorme caldeirão cultural, disseminou conhecimento e hábitos, nem sempre bons, de todos por todos os lados. Macunaíma ganhou dimensão internacional.
No livro “Um novo paradigma”, Alain Touraine, sociólogo e escritor francês, registra esta mudança para entendermos o mundo de hoje. Diz ele, “Nos primeiros séculos de sua modernização, o ocidente descreveu as pessoas e realidade social em termos políticos – a desordem e a ordem, o rei e a nação, o povo e a revolução. Depois, com a Revolução Industrial, o capitalismo emancipou-se do poder político. Então passou-se e agiu-se em nome de um novo paradigma, econômico e social e falou-se de classes, riquezas, desigualdades e redistribuição. Hoje na hora da economia global e do individualismo triunfante, a mundialização estraçalhou os antigos modelos da sociedade.” Em síntese, já não discutimos apenas as relações sociais, estamos a questionar o próprio indivíduo e sua interação com os demais membros, ou grupos, segundo novos conceitos humanos.
Enquanto isto, estamos vivendo uma fantástica mudança de hábitos por outras razões que a natureza nos apresenta. O conceito família, uma revolução pós novos gêneros, impactos da pílula anticoncepcional na formação do núcleo familiar – até os anos cinquenta era comum os casais terem 8, 10, 12 filhos, hoje 1, 2 ou 3, se é que os têm. A chegada da mulher no mercado de trabalho e os abalos consequentes, os valores morais e éticos sob a nova ótica do sucesso, a disseminação e uso das drogas, sua aceitação e/ou geradora da violência. O comportamento da nova geração, filha e herdeira da anterior “faça amor, não faça a guerra”, desconhecedora de problemas, criada na abastança, sem fé nem crença, de pais separados e um sem fim de impactos surgidos nas últimas seis décadas. Hoje vemos com naturalidade os filhos ficarem na casa paterna até os 30, 35 anos, passarem a ter vida conjugal sem casamento e se o tem separarem e voltarem à velha e acolhedora casa. Elas e eles. As “virtuosas” moças do passado desapareceram com a justa liberdade sexual, um direito há muito esperado tanto por elas quanto pelos rapazes.
E assim caminhamos neste mundo de Deus, a procurar nosso futuro ou a nós mesmos.

Nestor de Oliveira é Jornalista e Escritor