ÁGUAS DA TORMENTA

Nestor de Oliveira – Jornalista

A lagoa da Pampulha teve sua origem em 1936, na administração do prefeito Octacílio Negrão de Lima, com a finalidade de represamento do Ribeirão Pampulha, causador de enchentes, inundações e problemas para os ribeirinhos. Juscelino Kubitscheck, seu sucessor, teve a grande ideia de transformar, aquele pequeno lago de então, num complexo arquitetônico que marcasse a cultura, lazer e turismo para a capital. O arquiteto Oscar Niemeyer, ainda jovem, projeta todo o seu entorno, chama Joaquim Cardoso, o calculista, e dão forma ao grande empreendimento. Lá estão inúmeras atrações de cultura, arte, turismo e lazer, como Museu de Arte Moderna, a Casa do Baile, o Zoológico, o Parque Promotor Lins do Rego, o Jardim Botânico, a Universidade Federal de Minas Gerais, o Parque Guanabara, a Igreja São Francisco de Assis, o Iate Tenis Clube, o Pampulha Iate Clube, o Clube Belo Horizonte, o Clube do Banco do Brasil, o Restaurante Xapuri, o Restaurante Paladino e inúmeras outras atrações que a fazem um dos lugares ícones da cidade. Além destas inúmeras atrações os bairros da região passaram a viver situações antagônicas. Por um lado, a valorização dos imóveis, por outro o abandono público da região e de seu lago. As águas dos seus diversos córregos passaram a ser receptáculos do esgoto in natura, de seus moradores, de Contagem e Ribeirão das Neves. Apodreceu o lago.

Anos se passaram com seu total abandono, pelo poder público, com assoreamento e outras pestes a infectar tão bonito local. De 1979 a 1996 foi realizada obra de drenagem de sedimentos e consequente perda de parte de seu espelho d’água. Depois vieram os aguapés, que segundo a lenda urbana, foram recomendados por ecólogos para a absorção das impurezas das águas. Eles se transformaram em grave problema com sua reprodução incontrolável e nada absorveram, só multiplicaram. Milhões foram gastos para retirá-los, dando à cidade graves prejuízos, com contratos opacos a endividar o município. A história segue.

Novos contratos são feitos e continuam a gastança do descontrolado dinheiro público, a enriquecer fornecedores e serem alvos de processos policiais, judiciais, CPIs, uma vergonha para os administradores da cidade, pela ineficiência e corrupção. Moradores e visitantes bem sabem o quanto fedem suas águas putrefatas, inadequadas para delas se aproximar.  O lixo e dejetos nela jogados são condenação à sua beleza e vida.

 Mas o pior está sendo anunciado. Apesar das péssimas condições de suas águas a atual administração municipal vem de anunciar sua navegabilidade. Projeta-se colocar barcos turísticos a singrar tão despropositado esgoto, onde até os urubus “voam de costas”, como diria o falecido jornalista Stanislau Ponte Preta, o Sérgio Porto. Fico a imaginar um desastrado e infeliz turista, por um acidente qualquer, cair nestas águas, nelas mergulhar involuntariamente, qual seria o seu estado de saúde. Imagino que a todos os turistas será fornecida uma máscara de proteção, contra o mal cheiro característico do local. Seria um mergulho, similar ao Canto XXXII, no lago Cócito, onde Dante, na Divina Comédia, descreve no seu último inferno, só que aqui o afogamento permanente seria em ondas de fezes e urina.

Quem escreve este artigo protesto é um Pampulhano com mais de 40 anos de sofrimento e esgoto a infernizar os seus dias.                                   

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