ONU envia carta a Lula com reclamações sobre falhas de segurança na COP30
Documento, enviado na quarta-feira (12), faz referência a um incidente ocorrido na terça-feira (11), quando um grupo de manifestantes invadiu a Zona Azul, área restrita onde ocorrem as principais negociações
A Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP30), que acontece em Belém (PA), se tornou palco de intensas tensões nesta semana, com críticas duras da ONU à segurança e à infraestrutura do evento, além de um clima de impasse nas negociações sobre adaptação às mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) fez grandes anúncios de investimentos para financiar ações climáticas, e questões políticas também marcaram a cúpula, como a demissão de um ministro sul-africano durante a conferência.
O clima esquentou quando o secretário da UNFCCC (Secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), Simon Stiell, enviou uma carta ao governo brasileiro cobrando melhorias na segurança e infraestrutura da COP-30. O documento, enviado na quarta-feira (12), faz referência a um incidente ocorrido na terça-feira (11), quando um grupo de manifestantes invadiu a Zona Azul, área restrita onde ocorrem as principais negociações.
Stiell acusou as forças de segurança brasileiras de não agirem para conter os manifestantes e destacou problemas estruturais como a falta de ar-condicionado e vazamentos de água em alguns pavilhões da conferência. A carta foi revelada pela Bloomberg e confirmada pelo Estadão. Em resposta, o governo brasileiro procurou minimizar as críticas, afirmando que está tomando as medidas necessárias para garantir a segurança e a infraestrutura adequadas para o evento.
Outro ponto crítico da COP-30 tem sido as negociações sobre adaptação às mudanças climáticas. Durante as reuniões, países árabes, africanos e latino-americanos têm divergido sobre os parâmetros a serem adotados para medir a adaptação às crises climáticas, gerando um impasse sobre a Meta Global de Adaptação (GGA). As discussões também envolvem uma disputa sobre o financiamento climático, com países em desenvolvimento pressionando por mais recursos para enfrentar os danos causados pelo aquecimento global.
BID anuncia US$ 6 bilhões para ações climáticas
Em meio às tensões, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) anunciou uma série de investimentos para apoiar a ação climática na América Latina e no Caribe. O presidente da instituição, Ilan Goldfajn, revelou que o BID preparou anúncios que totalizam US$ 6 bilhões (cerca de R$ 31,7 bilhões). O maior projeto será apresentado na sexta-feira (14), com um investimento de US$ 3,4 bilhões para oferecer hedge cambial a empresas e investidores envolvidos em iniciativas sustentáveis. Outro projeto relevante é o Reinvestir+, que visa financiar projetos de energia renovável por meio da compra e venda de ativos sustentáveis.
Enquanto as negociações seguem tensas, a COP-30 também gerou curiosidade com a distribuição de brindes entre os países participantes. Na Zona Azul, um espaço dedicado a estandes culturais e negociações, os países oferecem itens típicos como leques de Portugal, tiaras de panda da China e papéis personalizados da Turquia. Esses brindes têm sido utilizados, em alguns casos, como moeda de troca para garantir que os participantes assistam a palestras e debates específicos, criando um clima curioso de troca cultural e diplomática.
A COP-30 também foi marcada por um episódio político inusitado. O ministro de Florestas, Pesca e Meio Ambiente da África do Sul, Dion George, foi demitido pelo presidente Cyril Ramaphosa enquanto participava da cúpula em Belém. A demissão foi abrupta e não teve explicações públicas detalhadas, embora a imprensa sul-africana tenha apontado que a decisão ocorreu a pedido do partido Aliança Democrática, que tem vários ministérios no governo Ramaphosa. Willem Aucamp, porta-voz do partido, foi nomeado para substituí-lo.
Apesar das críticas e das tensões internas, a COP-30 segue sendo uma plataforma crucial para discutir soluções para a crise climática global. Com negociações em andamento e grandes investimentos sendo anunciados, o evento em Belém continuará sendo um ponto focal para as questões climáticas e os desafios políticos e econômicos que envolvem a adaptação e mitigação das mudanças climáticas. As próximas semanas devem revelar se as questões estruturais e as divergências políticas podem ser superadas, ou se a cúpula se encaminhará para um impasse maior, impactando as metas globais de adaptação e financiamento climático.
*Com informações do Estadão Conteúdo