Affair de atriz vencedora do Oscar com enteado é revelado em biografia que só podia ser publicada quando todos os envolvidos estivessem mortos

Gloria Grahame era uma das grandes estrelas da Era de Ouro de Hollywood e venceu o prêmio da Academia por ‘Ainda Estava Escrito’, em 1953

Em Hollywood, nada é impossível, como mostram os próprios filmes da maior indústria cinematográfica do mundo. Entretanto, em alguns casos, os bastidores desse universo possuem histórias que nem mesmo as mentes mais criativas pensaram em levar às telonas.

O affair da vencedora do Oscar Gloria Grahame com o seu enteado, quando ele ainda era menor de idade, é uma dessas tramas. A história foi contada em uma biografia escrita por ele mesmo – quando já adulto: Anthony Ray (mais conhecido como Tony Ray).

O livro com seus relatos, porém, só foi publicado agora em 2025, muitos anos após a morte de todos os envolvidos na história.

A atriz Gloria Grahame — Foto: Reprodução
A atriz Gloria Grahame — Foto: Reprodução

Em 1953, quando o ator Edmund Glenn anunciou que Gloria Grahame ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante da 25ª edição do evento, ele brincou com o nome do filme pelo qual ela estava sendo premiada com a maior honraria do cinema – traduzida e adaptada em português como ‘Assim Estava Escrito’, a obra é originalmente chamada de ‘The Bad and the Beautiful’ (‘O Mau e o Belo’, no literal).

“Gloria Grahame por ‘The Bad and the Beautiful’”, ele declarou. “Ela é a beleza”, acrescentou, em tom de brincadeira. Entretanto, alguns dos presentes sabiam que o tanto que a atriz tinha de beleza, ela também tinha de perversidade.

Afinal, dois anos antes dela ter sido premiada pela Academia, circulava por Hollywod p rumor de que seu marido da época, o cineasta Nicholas Ray, havia a descoberto na cama da casa de praia dos dois em Malibu (balneário de ricos e famosos da Costa Oeste, na região de Los Angeles) junto com o filho adolescente dele, Tony, de um relacionamento anterior do diretor com Jean Evans.

Gloria Grahame em cena de 'Assim Estava Escrito' — Foto: Reprodução
Gloria Grahame em cena de ‘Assim Estava Escrito’ — Foto: Reprodução

Cabe um parênteses aqui. Há alguns anos atras, o nome de Grahame voltou à tona quando Annette Bening a interpretou no filme ‘Estrelas de Cinema Nunca Morrem’ (2017). Baseada num livro de memórias do ator de Liverpool Peter Turner (interpretado por Jamie Bell), a obra contava sobre o romance entre Grahame e Peter, quando eles tinham 55 e 26, respectivamente.

O longa-metragem não dava indícios de que a preferência da atriz por homens mais jovens havia começado quando ela tinha 26 anos, e que poderia ser caracterizada como crime – a idade de consentimento nos EUA ainda hoje varia de 16 a 18 anos – na Califórnia, onde tudo transcorreu, é 18 anos.

Isso só ficou exposto na biografia recém-lançada, ‘Circle of Lions: Nicholas Ray, Gloria Grahame and Me’ (‘Cova dos Leões: Nicholas Ray, Gloria Grahame e Eu’, em tradução livre). Escrita por Tony quando ele tinha 21 anos, em 1958 – dois anos antes de ele se tornar o quarto marido de Grahame (o que fez ele ser o padrasto do seu próprio meio-irmão, Tim – filho que ela teve com o seu segundo marido e pai de Tony, Nick Ray) –, o livro conta em detalhes o que aconteceu entre Ray e a estrela da Era de Ouro de Hollywood, quando ele ainda tinha 13 anos, e era enteado dela.

Por causa dos aspectos sensíveis da história, Tony Ray só autorizou que ela fosse publicada muitos anos depois que ele – e todos os outros envolvidos – tivessem morrido. Seu pai, Nicholas, morreu em 1979, aos 67 anos, já Gloria Grahame faleceu em 1981, aos 57 anos; e o autor em 2018, com 80 anos.

Em 2025, os membros da família Ray publicaram o livro que começa, inclusive, com um prefácio da filha dele, Kelsey, dizendo que toda a situação foi um “trauma profundo” que “impactou [o pai dela] até os últimos anos da sua vida”.

A capa do livro 'Circle of Lions' — Foto: Reprodução/Amazon
A capa do livro ‘Circle of Lions’ — Foto: Reprodução/Amazon

Tony Ray, que como o pai e a madrasta – e depois esposa –, também seguiu na indústria cinematográfica (tornando-se diretor da produtora da 20th Century Fox localizada na Costa Leste dos Estados Unidos). Teve diversos problemas com dependência química e jogo, que teriam sido desencadeados pelo relacionamento proibido com a madrasta.

Segundo Kelsey, parte da mudança contínua de comportamento do pai entre “euforia e mania grandiosa” e “episódios depressivos profundos e destrutivos” também se devia a atriz, a qual Tony teria sido obcecado até o dia de sua morte, quando já enfrentava o Alzheimer.

Inclusive, a filha descreveu que “um dos momentos mais profundamente poderosos que eu já presenciei” foi no leito de morte do seu pai em um sanatório. “Minha mãe [Eve, a segunda esposa de Tony] colocou um DVD do filme ‘Oklahoma!’ (1955) [no qual Grahame canta a icônica ‘I’m Just a Girl Who Can’t Say No’] como uma forma de confortá-lo”, relembrou.

“Ela queria ter a certeza de que ele não estava com medo e soubesse que iria se reunir, em breve, com aqueles que amava. O momento em que meu pai ouviu a voz de Gloria, ele rapidamente e abruptamente levantou a cabeça, com um fraco sorriso no rosto”, acrescentou.

Gloria Grahame em 'Oklahoma!' — Foto: Reprodução
Gloria Grahame em ‘Oklahoma!’ — Foto: Reprodução

O caso

Em junho de 1950, cerca de seis meses antes do seu aniversário de 13 anos de Tony Ray, ele e Gloria se conheceram no Aeroporto Internacional de Los Angeles. O jovem estava chegando na cidade após se envolver em problemas na escola e sua mãe, a jornalista Jean Evans (primeira esposa de Nick), achava que seria melhor ele morar com o pai – que o havia abandonado quando bebê.

Naquela época, Nicholas Ray já estava casado há três anos com Gloria e, surpreendentemente, concordou em abrigar um filho que ele mal conhecia. Quando chegou de Nova York, o jovem Tony esperava encontrar o pai, mas ele não compareceu por causa de agitada agenda profissional. Mas estava a madrasta em seu lugar.

Ainda, durante a viagem para Malibu, no Cadillac preto conversível que virou uma marca característica da estrela, Gloria Grahame teria pedido para que o jovem acendesse um cigarro para ela. Como destacado no livro, fica claro que, desde o início, ela o tratou com se ele fosse muito mais velho – e isso o deixou lisonjeado.

Enquanto Nicholas Ray sempre refutava as tentativas de aproximação do filho – para pescar, nadar ou até mesmo jogar cartas –, alegando que estava ocupado, Grahame passava todo tempo que podia com o jovem.

A atriz Gloria Grahame — Foto: Reprodução
A atriz Gloria Grahame — Foto: Reprodução

Naquela época, Gloria Grahame já era extremamente famosa. Ela havia feito um pequeno papel em ‘A Felicidade Não Se Compra’ (1946), tinha sido indicada ao Oscar por ‘Rancor’ (1947) e protagonizado ‘No Silêncio da Noite’ (1950) ao lado de Humphrey Bogart.

Como revelado no livro, a vida de Tony mudou quando Gloria Grahame se ofereceu para ensiná-lo a como beijar. E então a relação física entre eles se desenvolveu às escondidas. Quando eles foram para um famoso cassino na divisa entre California e Nevada, madrasta e enteado aproveitaram a compulsão de Nicholas Ray por jogos de azar para irem além. Enquanto o diretor perdia dinheiro no cassino, a atriz se trancava com o enteado no quarto do hotel.

O casamento de Gloria Grahame e Nicholas Ray, aliás, era bastante excêntrico, para dizer o mínimo. Ela o acusava de ter um caso com Marilyn Monroe e eles tinham brigas homéricas por esta razão.

A atriz Gloria Grahame — Foto: Reprodução
A atriz Gloria Grahame — Foto: Reprodução

A relação entre Gloria Grahame e Tony Ray também era, além de doentia, repleta de tensões. No livro, ele descreve um momento em que a atriz apontou uma arma para ele e chamou a polícia alegando que o enteado tinha tentado abusar dela. E, quando os agentes policiais chegaram, ela se desculpou dizendo que tinha “extrapolado” na acusação por conta de uma discussão.

Foi esse episódio que fez Nicholas Ray juntar dois mais dois e perguntar, diretamente a Tony, há quanto tempo ele e Gloria Grahame estavam se relacionando – ou seja, os rumores de que ele pegou o filho e a esposa na cama eram falsos. Não foi bem assim que aconteceu.

Tony Ray não negou, mas, nos seus relatos, fica implícito que ele acreditava que o pai já queria se separar da esposa. E teria manipulado ambos para que eles tivessem um caso e isso causasse “um divórcio mais barato”. E, de fato, o cineasta e a atriz se divorciaram em 1952 – mesmo ano em que ela fez ‘Assim Estava Escrito’, filme que lhe rendeu o Oscar.

Gloria Grahame em cena de 'Assim Estava Escrito' — Foto: Reprodução
Gloria Grahame em cena de ‘Assim Estava Escrito’ — Foto: Reprodução

Em 1954, Gloria se casou com outro diretor, Cy Howard, mas também não durou. Então, em 1960, Tony se encontrou com o pai, Nicholas Ray e ele sugeriu, de forma inacreditável e inaceitável, que o filho tentasse se reencontrar com a ex, dando-lhe o número de telefone dela.

“Eu não tinha tido contato com Gloria desde os meus 13 [anos], mas eu ansiava por ela durante a minha adolescência. Eu a acompanhava pelos filmes dela… E quando cheguei na Califórnia [de novo], liguei para ela. Ela queria me ver imediatamente e eu queria vê-la na mesma hora também”, ele escreveu.

“Nós marcamos de se encontrar em uma esquina e ela estaria dirigindo – como muitos anos antes – o mesmo Cadillac preto conversível. Quando ela chegou, eu entrei e nós nos abraçamos por um bom tempo. Eu vi que, no banco de trás, havia uma mala e caixas. Nós fomos para uma casa que eu estava alugando e desempacotamos as coisas dela. Ela veio para ficar. Gloria e eu nos casamos em 13 de maio de 1960”, acrescentou.

A atriz Gloria Grahame — Foto: Reprodução
A atriz Gloria Grahame — Foto: Reprodução

Durante o relacionamento, Gloria Grahame se tornou dependente de álcool e teve um surto psicótico, enquanto Tony tinha os próprios vícios. O casamento dos dois chegou ao fim em 1974, mas antes disso tiveram dois filhos – inclusive, em 1965, quando o segundo nasceu, a atriz tentou tirar a própria vida. Com isso, o juizado deu a guarda para Tony baseando-se que ele “o menor dos dois males”.

Confira abaixo o momento em que Gloria Grahame ganhou o seu Oscar por ‘Assim Estava Escrito’, em 1953.

*Com edição de Luís Alberto Nogueira em Revista Monet

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