Às vésperas do Dia Nacional da Saúde Bucal, filas do SUS no DF ultrapassam 300 dias de espera 

Quase 19 mil pessoas aguardam atendimento odontológico; especialidades como prótese dentária e tratamento de canal concentram a maior parte dos pacientes

Neste sábado (25), o Brasil celebra o Dia Nacional da Saúde Bucal. Mas, no Distrito Federal, a data chega com um alerta: quase 19 mil pessoas estão na fila por atendimento odontológico especializado na rede pública. Em algumas áreas, o tempo de espera ultrapassa 300 dias, segundo dados do painel Acompanhamento SUS DF, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
 

Especialidades com maior fila
Os maiores gargalos estão em prótese dentária e endodontia (tratamento de canal), que juntas somam mais de 13,4 mil pacientes. Na sequência, aparecem a odontopediatria, com 1.861 pessoas na fila, e os atendimentos para distúrbio temporomandibular (DTM), cuja espera chega a 313 dias, o maior tempo registrado. Outro dado que preocupa é o atendimento pré-operatório odontológico de pessoas com deficiência (PCD) sob anestesia geral, com espera de até 238 dias.
 

Delmondes destaca que o custo e o tempo de execução dos procedimentos dificultam o fluxo de atendimentos Para o cirurgião-dentista Gustavo Delmondes, da Benve Odontologia, o problema é antigo e estrutural. “A odontologia pública enfrenta uma defasagem de profissionais e equipamentos, especialmente nas áreas reabilitadoras, como prótese e endodontia. Essas especialidades exigem mais tempo de cadeira e materiais caros, o que torna o atendimento no SUS mais difícil de manter em volume adequado”, explica.
 

Delmondes destaca que o custo e o tempo de execução dos procedimentos dificultam o fluxo de atendimentos. “Um tratamento de canal pode exigir várias consultas, enquanto a confecção de uma prótese depende de etapas laboratoriais que o serviço público nem sempre consegue absorver”, acrescenta.
 

A cirurgiã-dentista Samara Agatha lembra que a demora no atendimento afeta diretamente a saúde geral dos pacientes. “Um dente perdido sem reposição compromete a mastigação, a fala e até a autoestima. Já um canal não tratado pode evoluir para infecções graves e até internações hospitalares. A fila de espera não é apenas um número, ela representa dor e perda de qualidade de vida para milhares de pessoas”, afirma.
  A fila de espera não é apenas um número, ela representa dor e perda de qualidade de vida para milhares de pessoas”, afirma a cirurgiã-dentista Samara Agatha.

Desigualdade entre especialidades
Enquanto algumas áreas apresentam longas filas, outras têm demanda reduzida. A cirurgia buco-maxilo facial, por exemplo, registra apenas quatro pessoas na fila, com espera de até 58 dias. Já em prótese dentária, há quase 7 mil pacientes e o tempo médio de espera sequer é informado, o que indica falhas de monitoramento. Essa desigualdade, segundo os especialistas, mostra que há má distribuição de recursos e profissionais.
 

Levantamento feito no site do MPDFT no dia 22-10


Caminhos possíveis
Para enfrentar o problema, os dentistas defendem a ampliação de parcerias entre o poder público e instituições de ensino. “Há exemplos de faculdades de odontologia que realizam atendimentos em cooperação com o SUS e ajudam a reduzir as filas. Esse tipo de iniciativa precisa ser ampliado e incentivado”, sugere Samara.
 

Criado para promover a conscientização sobre os cuidados com a boca e os dentes, o Dia Nacional da Saúde Bucal reforça a importância da prevenção e também escancara a urgência de políticas públicas mais eficazes. Enquanto o país celebra a data, milhares de brasilienses seguem esperando por um tratamento essencial para comer, sorrir e viver com dignidade.

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