Due Diligence na Cadeia de suprimentos: Conhecer para Transformar
Por Mariana Borges
Você sabe quem realmente está por trás dos produtos e serviços que sua empresa compra? Conhece as condições de trabalho nas fábricas dos seus fornecedores? Sabe se eles gerenciam bem seus resíduos ou se poluem rios da comunidade onde estão?
Se a resposta for “não sei ao certo”, você não está sozinho. A maioria das pequenas e médias empresas brasileiras opera sem conhecer profundamente sua cadeia de fornecimento. E isso não é apenas uma lacuna operacional — é um risco estratégico cada vez maior.
Due diligence na cadeia significa investigar, de forma estruturada e contínua, quem são seus fornecedores, como trabalham, que riscos socioambientais carregam e que oportunidades de transformação existem ali. Grandes multinacionais fazem isso há anos. Mas a pergunta que mais ouço é: por que pequenas e médias empresas não fazem?
A resposta errada e a resposta correta
A resposta errada para essa pergunta é: “Não temos recursos.”
A resposta correta é: “Não sabemos por onde começar.”
E existe uma diferença enorme entre as duas. Porque recursos você pode construir aos poucos. Mas sem saber o caminho, você nem começa a andar.
Antes de entrar no “como fazer”, vale entender por que esse tema ainda é tão distante da realidade de muitas empresas brasileiras. E tem a ver, de novo, com nossa cultura.
Nossa relação com fornecedores
No Brasil, relações comerciais muitas vezes se constroem em cima de confiança pessoal. Conhecemos o dono do fornecedor, tomamos café juntos, fazemos negócio baseado na palavra. Isso tem um lado positivo: cria proximidade e lealdade. Mas tem um lado perigoso: a confiança pessoal pode substituir a verificação estruturada.
Quando você confia na pessoa, tende a não questionar o processo. E aí surgem situações onde você descobre, tarde demais, que aquele fornecedor parceiro tinha práticas trabalhistas problemáticas, ou descartava resíduos de forma inadequada. E agora? Você está conectado a isso. Sua reputação também.
Mas aqui está a boa notícia: essa mesma cultura de proximidade, se bem direcionada, pode ser um facilitador. Porque somos bons em conversar, em criar vínculos, em buscar soluções juntos. E é exatamente isso que a due diligence precisa — não de auditores frios, mas de diálogo genuíno.
Como começar de forma prática
Mapeie sua cadeia (não precisa ser perfeito)
Primeiro passo: faça uma lista. Quem são seus fornecedores diretos? De onde vêm os insumos que eles te entregam? Quem está por trás daquele produtor que te abastece?
Você não precisa conhecer toda a árvore de fornecimento no primeiro dia. Mas precisa saber onde estão os maiores riscos. Normalmente, eles estão em três lugares:
● Fornecedores de maior volume: Quanto maior a operação, maior o impacto potencial — positivo ou negativo.
● Fornecedores de áreas com maior risco socioambiental: Agricultura em regiões com histórico de trabalho precário, indústria química em áreas de poluição, produção em locais com fiscalização fraca.
● Fornecedores em regiões com regulação frágil: Onde a lei existe no papel, mas não é cumprida na prática.
Comece pelos fornecedores que se encaixam nesses perfis. Eles são sua prioridade.
2. Avalie os riscos (através de conversas, não apenas documentos)
Aqui está onde muitas empresas erram: enviam questionários genéricos, recebem respostas padrão e acham que fizeram due diligence. Não fizeram.
Se possível, visite. Conheça a operação. Converse com quem está na linha de frente. Pergunte e, principalmente, escute.
Algumas perguntas que realmente importam:
● Como vocês gerenciam resíduos e efluentes?
● Qual é a faixa salarial dos colaboradores e como se compara ao mercado local?
● Vocês têm programas de segurança, saúde ou desenvolvimento profissional?
● Qual é a pegada de carbono da operação?
● Há alguma prática de trabalho infantil ou forçado na cadeia?
E aqui está um sinal de alerta: se a resposta para qualquer uma dessas perguntas for “não sei”, o risco é duplo. Operacional, porque você está lidando com uma empresa que não se conhece. E reputacional, porque você está conectado a alguém que não sabe o que está acontecendo dentro da própria casa.
3. Co-crie soluções (não apenas cobre compliance)
E aqui está o diferencial de uma due diligence que realmente transforma.
Em vez de chegar com uma postura de “vocês precisam se adequar ou vamos embora”, experimente dizer: “Identificamos esses desafios. Como podemos enfrentá-los juntos?”
Quer ajudar um fornecedor a reduzir desperdício? Mostre quantos custos podem ser economizados com gestão adequada de resíduos. Quer melhorar as condições de segurança? Conecte-os a programas de treinamento acessíveis. Quer que meçam sua pegada de carbono? Ofereça ferramentas simplificadas que vocês possam usar juntos.
Quando você oferece suporte, e não apenas exigência, fornecedores se transformam. E você cria relacionamentos de parceria real, onde todos crescem juntos.
Essa abordagem, aliás, combina perfeitamente com nossa cultura. Porque somos bons em colaboração quando sentimos que o outro está genuinamente interessado em ajudar, não apenas em fiscalizar.
O teste final
Antes de encerrar, faça este exercício: se você descobrisse hoje que um dos seus fornecedores tem práticas questionáveis — trabalho infantil, poluição de rios, condições insalubres —, o que você faria?
Se a resposta é “não sei” ou “provavelmente nada, porque nem saberia como descobrir isso”, é porque sua due diligence ainda não começou.
E está tudo bem. O importante é começar. Porque conhecer sua cadeia de fornecimento não é apenas sobre mitigar riscos. É sobre construir relações mais sólidas, identificar oportunidades de inovação e criar impacto positivo real.
Quando você sabe quem está do outro lado, pode transformar. Quando você não sabe, está apenas cruzando os dedos para que nada dê errado. E no cenário atual, isso não é mais suficiente.

Artigo escrito por Mariana Borges, fundadora da Move’n Up inteligência em Gestão Sustentável
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