Novo Mundial de Clubes mexe com hierarquia e mercado consumidor do futebol, mas impõe desafios à Fifa
Torneio com 32 times e dezenas de nacionalidades amplia o alcance e as disputas e torna domínio da Champions League e da própria Copa do Mundo de seleções uma incógnita
A Copa do Mundo de Clubes termina como a competição mais internacionalizada do futebol. Foram 32 clubes de 6 confederações, representando 21 nacionalidades diferentes. Essa diversidade reflete a proposta da FIFA de tornar o torneio mais global e inclusivo, semelhante à Copa do Mundo de seleções. E impõe desafios da entidade para conciliar os dois torneios a cada quatro anos.
O Mundial foi uma resposta concreta ao movimento de centralização da Europa e também deixa no ar como os clubes que disputam a Liga dos Campeões vão se comportar. A disputa mais abrangente demonstrou um equilíbrio entre sul-americanos e europeus. E as fortunas pagas em premiação fizeram com que a resistência inicial ficasse pelo caminho. O título deu ao Chelsea 40 milhões de dólares (R$ 223 milhões na cotação atual) e a campanha 115,2 milhões de dólares (RS 640,5 milhões).
Além da questão financeira, o que se viu foi uma ameaça à mudança no ecossistema do futebol. O torneio apresentou problemas em relação ao horário, ao calor, sobretudo para os europeus em fim de temporada e sem férias, mas tem potencial de ser uma competição mais importante até do que a Copa do Mundo. A Fifa fez questão de ressaltar a nacionalidade dos jogadores. Se uma Copa com 48 seleções chama atenção de 48 países, um Mundial com quase 90 nacionalidades chama mais. É um mercado consumidor bem mais amplo. Clubes e jogadores de muito mais países. E receitas na casa dos R$ 10 bilhões, segundo a Fifa.
A forma de disputa faz o torneio intercontinental disputado até agora perder força. Ao longo dos três anos que antecedem o Mundial de Clubes, que agora será em 2029, os campeões do mundo terão um objetivo a mais e maior atrativo financeiro. Ao conectar o Mundial à classificação via Libertadores, Liga dos Campeões da Ásia, CONCACAF, CAF e outros torneios, a FIFA também resgata o valor das competições locais e regionais. Agora, a entidade vai olhar para frente e avaliar as melhorias, segundo o presidente Gianni Infantino. Além disso, terá que escolher uma nova sede. Brasil, Espanha, Marrocos e até os Estados Unidos indicaram interesse.
Novo campeão
O título do Chelsea sobre o PSG também ajuda a mudar a hierarquia, mas dentro de campo. Ter um novo campeão do mundo em cima do clube que faturou a Liga dos Campeões dá força ao torneio. Se não tem as principais forças da Europa, o formato conta com clubes de ponta de diversos países, o que impõe uma dificuldade específica, e valoriza a conquista dos ingleses.
A competição também ganha uma simbologia de volta por cima, de ser uma chance de deixar uma última boa impressão geral caso a temporada não tenha sido tão boa. Foi assim com o Chelsea, que trocou de técnico várias vezes nos últimos anos, investiu em uma reformulação, e acabou premiado.
Desde o título da Champions em 2020/21, a equipe comandada pelo italiano Enzo Maresca só chegou no máximo às quartas nas edições seguintes. Em duas sequer se classificou para disputar a competição. Em 2024/25, jogou a Conference League e foi campeão do torneio que é o terceiro em prioridade em relação à Champions e à Liga Europa.
Para as equipes de outros continentes, o atrativo financeiro vem em boa hora. O Mundial certamente passará a ser visto como prioridade para um planejamento de médio prazo. O que vai valorizar as competições como a Libertadores, sobretudo para times brasileiros e argentinos.
O Mundial, porém, democratiza quando traz outros times que chamaram a atenção, como o Mamelodi Sundows, da África do Sul, que se destacou na primeira fase nos relatórios da Fifa, mas não avançou. E o Al Hilal, da Arábia Saudita, que venceu o Manchester City e animou ainda mais o torneio no fim.
Para os brasileiros, o bom papel teve uma mensagem distinta em cada clube. No Flamengo, deu maior convicção para o modelo de jogo, ainda mais com a vitória sobre o campeão Chelsea. No Fluminense, que foi à semifinal, a superação foi palavra de ordem, competindo de igual para igual com europeus. Talvez Palmeiras e Botafogo tenham deixado mais a desejar nesse sentido, mas o clube alvinegro pode dizer que venceu o PSG vice-campeão.
*Com informações de Extra
