O melhor futuro
Num mundo de operários de pouca instrução, em que a melhor escola era de ensino profissionalizante, SENAI, a composição de cenários para autodesenvolvimento era frequentemente baseada nas restritas experiências profissionais dos veteranos na Siderúrgica. O acesso à informação, naquele
interior quase lúdico, em que eram raras as famílias, dentro daquele recorte social, que tinham uma geladeira ou um aparelho de televisão, não é comparável ao que temos atualmente.
As informações chegavam pelo rádio AM, pelos jornais impressos que, naturalmente, apresentavam um descompasso de, no mínimo, um dia; ou, ainda, o famoso Canal 100, que iniciava as sessões de cinema. Exceto o rádio, as outras mídias também não eram tão acessíveis e, portanto, criavam um afunilamento no nível de informação. Mesmo as poderosas e impactantes vozes dos saudosos Cid Moreira, Luiz Jatobá, Paulo César Pereio e Correa de Araújo, que faziam a locução do então famoso jornal dos cinemas, não arrefeciam o fato de que as notícias não eram tão atuais.
Com tão poucos recursos, a construção de um caminho para o sucesso fazia com que houvesse classes com oportunidades absolutamente distintas. Os mais aquinhoados financeiramente podiam enviar os filhos para estudar nos grandes centros nacionais ou estrangeiros. Aos outros, restava encontrar veredas que, de forma bem mais desafiadora, permitissem vislumbrar oportunidades para realização de propósitos e sonhos. E estes, logrando ou não sucesso nessa busca, ficaram mais calejados, mais resistentes às adversidades, mais conscientes de suas próprias capacidades.
As famílias numerosas de então formavam elas próprias, entre seus membros até segundo grau, núcleos de convivência e apoio mútuo, com um número expressivo de componentes. E esses núcleos, interagindo por uma série coadunada de condições geográficas, emprego, estudo e até lazer, ampliavam
o escopo de relações, sendo poucos os que se sobressaíam num ambiente tão parelho a todos.
A condição PcD de alguns, especialmente para os nascidos até a década de 70 que estiveram sujeitos aos muitos surtos de poliomielite, restringia ainda mais o horizonte socioprofissional para essas pessoas. Algumas profissões, de áreas mais técnicas e operacionais, eram tidas como inalcançáveis para esse grupo.
O acesso à educação formal era bem mais difícil, incluindo as barreiras naturais e arquitetônicas; as ideias equivocadas com relação aos limites para esse contingente; a visão paternalista, piedosa e segregante ou, por outro lado, as expressões de repulsa pelo desconhecimento da realidade dessas pessoas. A vida, particularmente para as PcD, em meados do século passado, apresentava vieses contundentes, às vezes protecionista demais, de forma a interpor obstáculos; outras vezes excludentes em forma e conteúdo; e, em menor escala, naturalidade no contato. Portanto, libertar-se daquele modelo de reiteração de costumes que estimulava a inércia sempre exigiu um esforço hercúleo e uma
resiliência ferrenha.
Atualmente, com muito mais facilidades de acesso à informação, que permite a todos impregnar-se de conhecimento; com as diversas ferramentas disponíveis buscar o aprimoramento e a qualificação, uso como referência um ícone da Administração moderna, Peter Drucker: “A melhor maneira de prever o futuro é construí-lo você mesmo”. Façamos nosso melhor.

Mário Sérgio Rodrigues Ananias é Escritor, Palestrante, Gestor Público e ativista da causa PcD. Autor do livro Sobre Viver com Pólio.
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