O que te dá medo?

Quando resolvi contar as histórias e experiências pelas quais passei durante a minha vida, o medo de me colocar em uma posição de vulnerabilidade me dominou por longo período. Não que algumas das situações não tivesse um quê de cômico ou, em raras ocasiões, de superação em relação a obstáculos e às demandas complexas. O problema era que levar um tombo espalhafatoso; quase me afogar num lago; levar um fora em decorrência de minha condição física; ter perdas importantes por questão de instantes que a poliomielite me impediu de cumprir. Não era nada disso. Era a incerteza de arrastar comigo alguém que se sentisse aviltado por minha história, ou que, apesar das similaridades, não se sentisse confortável com a exposição que era apenas minha. Mas se parece com a de tantas pessoas…

Recomendo muito, porque também o fizeram por mim, a leitura do excelente livro da americana Casandra Brené Brown, professora pesquisadora, palestrante e escritora: “A Coragem de Ser Imperfeito”.

Quanta coisa deixamos de usufruir, de conhecer ou de oferecer aos outros em termos de vivências que ajudariam a tantos nessa jornada interessante da vida?

Num dos trechos ela aduz que:

“Quando estamos vulneráveis é que nascem o amor, a aceitação, a alegria, a coragem, a empatia, a criatividade, a confiança e a autenticidade. Se desejarmos uma clareza maior em nossos objetivos, ou uma vida espiritual mais significativa, a vulnerabilidade, com certeza, é o caminho.”

E, muitas vezes, para parecermos mais fortes do que realmente somos, optamos pelo “lado ruim da força”, no intuito de evitar demonstrar qualquer suposta fraqueza. E essas posturas tristes, muitas vezes, são uma fuga optada pelas pessoas com deficiência. Através de tentativas de parecermos super isso ou super aquilo, mais fortes que a média, mais inteligentes que a maioria, ou mais capazes do que nós mesmos.

Com o apoio, incentivo e diversas opiniões de pessoas próximas, aceitei o desafio e hoje, depois de quase dois anos de atuação contínua na labuta de levar ao público as experiências de uma pessoa acometida pela poliomielite, vejo bons resultados que, a princípio, nem chegava a cogitar. Naturalmente outros (e muitos) fatores contribuíram para aumentar o número de crianças cobertas pela vacina contra a pólio; mais pessoas, especialmente jovens, conhecem a doença e sabem dos riscos da baixa cobertura vacinal. Além disso, conseguimos levar, de uma forma leve e às vezes engraçada, uma mensagem de vital importância para a preservação da saúde das crianças. E isso causa um certo orgulho e realização pelo alcance que o esforço atingiu.

Todos necessitamos dar os primeiros passos, que são inseguros durante um tempo. Precisamos esboçar as primeiras palavras, que não são tão inteligíveis e não formam frases conexas, na infância. Depois das cirurgias nos dois ombros, precisei reaprender a usar, sem medo, os membros superiores.
O medo não deve nos paralisar. Como bem disse o analista de comportamento, escritor e palestrante especializado em hábitos, James Clear no livro Hábitos Atômicos: “A aversão ao risco aniquila a inovação.”

Mário Sérgio

Mário Sérgio Rodrigues Ananias é Escritor, Palestrante, Gestor Público e ativista da causa PcD. Autor do livro Sobre Viver com Pólio.

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