Propósito
Das muitas ações prometidas para o próximo ano, mês ou a segunda-feira que vem, poucas se cumprem. Algumas delas até são tentadas, iniciadas, mas abandonadas em pouco tempo. Expectativas de eliminar alguns quilos, aposentar o cigarro, parar de beber e até mesmo buscar um emprego ou outra
fonte de renda com foco em sair da dependência de terceiros para sobreviver.
Inclusive sob o enfoque de que quem banca, também detém a chaves dos sonhos, o poder de decisão e veto. Talvez o desestímulo para ser resiliente advenha de uma cultura em que somos compelidos a imaginar que a vida nos deve muito, que o sucesso dos outros tenha surgido como um passe de mágica
e que não houve qualquer esforço para alcançá-lo ou mantê-lo. Ainda que essa visão seja absolutamente infantil, um número cada vez maior de adultos recrudesce nela, esperando que o cenário se altere, como diziam nossos antepassados, “por obra do Divino Espírito Santo”.
Aqueles que conseguem escapar desse processo viciante que escraviza enquanto mostra, ao longe, um mundo de céu azul claro, sob um sol que aquece sem queimar, acariciado por uma gostosa brisa que nem chega a desalinhar os cabelos, sabem do bom que é ser livre. E não se deixam induzir pela sedução
de que alguém lhes dará os subsídios necessários ao seu bem-estar, à sua felicidade.
Nas estórias infantis mais conhecidas, com príncipes e princesas, fadas e dragões, em que madrastas eram personagens frequentes, o bem e o mal sempre foram bem definidos. E liberdade, ainda que raramente se tenha utilizado esse termo nas páginas, era um dos bens mais preciosos. Quando foi que
perdemos a capacidade de discernimento que nos fez optar por renunciar a um bem tão valioso? Porque cada mínimo obstáculo nos faz desistir, nos encolher e nos esconder em nossos sentimentos de fracasso? Acredito, sinceramente, que nossa falta de disposição para lutar nos tornou nossos próprios algozes.
Reclama-se muito por carências emocionais ou materiais, mas pouco se faz para mudar o quadro. Assim, entendo, o dito “chorar de barriga cheia”, vem muito a calhar para muita gente.
Tive a honra de conhecer algumas Pessoas com Deficiência, que se destacaram em diversas áreas de conhecimento, que enfrentaram adversidades em níveis pouco conhecidos pela grande massa. São vitoriosos, independentes, inseridos e respeitados em seus círculos sociais. O que não implica dizer que nunca tenham sido discriminados, excluídos ou objeto de preconceito. São, todavia, sabedores de que a deficiência não os define e, sim, que são pessoas com direitos e deveres, que sentem, choram, riem, produzem, acolhem e são acolhidos, amam e são amados. O que destaca essas pessoas, com ou sem
deficiência, para que se projetem na vida? Há, imagino, muitas respostas para essa questão. Trabalham muito por isso ou são herdeiros, ou ainda, tiveram a sorte de serem queridos por um vencedor. No primeiro caso a posição é bem sólida, consistente. Nos outros, não necessariamente. Afinal, o que tem o real condão de transformar positivamente a vida é o propósito.

Mário Sérgio Rodrigues Ananias é Escritor, Palestrante, Gestor Público e ativista da causa PcD. Autor do livro Sobre Viver com Pólio.
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