Valores
A famosa pintura do espanhol Pablo Picasso, Guernica retrata um momento sombrio da guerra civil espanhola, mas não é uma bandeira solidária contra os horrores da guerra. Ernest Hemingway, genial escritor norte-americano, enquanto repórter especializado, também retratou cenas daquele conflito
europeu na famosa obra “Por quem os sinos dobram”. Assim como o escritor português Fernando Pessoa, uma referência na literatura mundial, descreveu de forma magistral a dor e a extensão dos danos que as conflagrações causam em pessoas, famílias e comunidades, numa poesia memorável, “O Menino de sua mãe”.
Nesses tempos de informações cada vez mais céleres, em que conflitos desenvolvidos em quaisquer pontos do planeta são mostrados ao vivo e em cores no momento exato em que bens e pessoas são destruídos, histórias são apagadas sonhos dilacerados, me ponho a pensar sobre o amor. E me recordo
quer os autores da bela canção, Transversal do Tempo, João Bosco e Aldir Blanc, lançada em 1978 em disco homônimo pela espetacular Elis Regina, diziam: “acho que o amor é a ausência de engarrafamento”. Outros tantosartistas, pensadores, sábios e filósofos definiram de muitas maneiras esse sentimento eminentemente humano. A mim, todavia, ocorre que uma das formas de amor seja evitar a guerra, trabalhar para evitar a “política dos extremos”.
A vitória, em qualquer que seja o conflito armado, será sempre de quem torceu contra, de quem se pauta pela desgraça como regra e pela miséria como missão. Não importa o objetivo da contenda, a perda de uma única vida ou a geração de mais Pessoas com Deficiência, pela brutalidade daqueles que se acreditam deuses, arrogantemente abduzidos pelo poder, sempre representará perdas enormes, lastimáveis.
O ex-presidente argentino, Juan Domingo Peron, que teve sua fama e reconhecimento alavancados pela atuação da encantadora esposa, Isabelita Peron, escreveu, quando em exílio: “A força é o direito das bestas”. Independentemente de coadunar ou não com suas posições políticas, a frase instiga a pensar sobre a condição humana. Estamos direcionados ao desenvolvimento, ao fortalecimento das boas relações pessoais e sociais, ao crescimento econômico e industrial ou nos resta apenas dispor nossa força física, como um quadrúpede, para alcançar algum propósito?
Importa saber se nossa liberdade depende da vontade de terceiros, pessoas, estados ou entidades, se o que produzirmos será nosso por direito ou por concessão desses mesmos atores. George Orwell delineou, no livro “1984”, as bases de um futuro lúgubre, usando a metáfora do Grande Irmão, que tudo vê e tem ainda a capacidade mórbida de controlar a história, o presente e até os pensamentos. Era um dos possíveis cenários para as perspectivas que a recém terminada 2ª Grande Guerra dispunha ao mundo. E ainda hoje, há ditadores que, em suas posturas populistas, corruptas, retrógradas, como bem disse Caetano Velloso: “com sua burrice fará jorrar sangue demais”.
No entanto, contrariando as projeções mais pessimistas, daqueles que preferem a vitória do mal em detrimento da vida, o arrefecimento das rusgas na Faixa de Gaza, a possibilidade do fim da Guerra Rússia-Ucrânia, indica: Ainda há razões para sonhar.

Mário Sérgio Rodrigues Ananias é Escritor, Palestrante, Gestor Público e ativista da causa PcD. Autor do livro Sobre Viver com Pólio.
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