Você veio!

Em uma das viagens que fizemos à praia de Porto Seguro, na Bahia, resolvemos fazer um passeio especial. Fomos a uma praia em Arraial d’Ajuda, Mucugê. Para chegar lá, trem uma travessia de barco em que se pode começar a ter contato com outros visitantes e residentes. Essa é uma das vantagens desse espaço reduzido em que se encontram muitas pessoas. Há também, nessa região, uma feira de mesmo nome, Mucugê, funcionando à tarde e à noite com interessante artesanato e áreas de alimentação muito charmosas. Algumas delas, com músicas ao vivo de vários estilos.

Tenho, naturalmente, alguma dificuldade com pavimentação – ou a falta dela! – e pisos irregulares e, também, com desníveis acentuados. As sequelas de pólio que me acompanham por toda a vida exigem um esforço maior para vencer barreiras naturais ou arquitetônicas, ainda que, para a grande maioria das
pessoas, tais percalços nem sejam notados. Por outro lado, esse esforço não reduz em nada o prazer de estar entre amigos nesses lugares mágicos, encantadores. Da mesma forma que o acolhimento que nos proporciona, são encontrados em cidades como Ouro Preto, Congonhas, Parati, Goiás Velho e até nessa metrópole moderna, Brasília. Há um local entre o Lago Norte e Taquari e Granja do Torto, com diversos viveiros de plantas e floriculturas, onde se pode fruir essa atmosfera de interior, cheia de charme e de cultura. Ali se pode tomar um café especial, fruir um almoço delicioso, provar pães caseiros raros, fazer
cursos em artes plásticas ou simplesmente relaxar à beira de um pequeno lago cheio de carpas, enquanto se ouvem pássaros e se observam saguis e micos que pululam nas árvores.

Em ambientes assim, é possível desligar-se da correria diária, reconectar-se com a paz. Aqueles que têm a felicidade do sublime romantismo, acredito que, ao fechar os olhos, ouvirão o espetacular Milton Nascimento. E sua voz divina solfejará: “Mandem notícias do mundo de lá…”. A nos dizer, na canção
“Encontros e Despedidas” (1985), e Fernando Brandt, que nos encontramos com o melhor de nós, em nosso íntimo; enquanto nos despedimos de tudo o que nos afasta do amor.

Naquele passeio a Mucugê, uma cena se fixou em minha lembrança: depois de um dia de praia, muito sol, mais de uma hora de caiaque num mar calmo que nos balançava como um colo de mãe, subimos a encosta. No calçamento com grandes seixos, também conhecido como pé-de-moleque, muito comum nas ruas do bairro em que nasci, Vila Tanque, em João Monlevade, precisei da ajuda de minha esposa e de desconhecidos para vencer o percurso.

Ao chegarmos à praça, o dia já terminava, mas o poente emprestava belas cores ao cenário já pitoresco do lugar. Sentei-me para um pequeno descanso enquanto analisava, curioso, as barraquinhas e os rostos de quem por ali passava.

Nos dirigimos à estreita viela ladeada por pequenos bares e restaurantes. Vem em nossa direção um senhor alto, esbelto com braços abertos e um sorriso iluminado enquanto afirma: “Que bom que você veio!”

Mário Sérgio Rodrigues Ananias é Escritor, Palestrante, Gestor Público e ativista da causa PcD. Autor do livro Sobre Viver com Pólio.

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