Duas mocinhas

Enquanto, em 1957, a então União Soviética lançava a cadela Laika ao espaço, como um primeiro passo a frenética corrida espacial, foco basilar da Guerra Fria entre oriente e ocidente, a primeira vacina contra a paralisia infantil só estava disponível em pouquíssimos lugares e eu nascia em João Monlevade/MG.

Três anos depois, já duas vacinas concorriam brava e lindamente pelo reconhecimento de que a eficácia e uma seria superior à da outra. A Salk, disponibilizada em 1955 e 1957, nos Estados Unidos, pelo novaiorquino Jonas Edward Salk; e a Sabin, carinhosamente conhecida no Brasil como Zé Gotinha desde 1986, testada e aprovada na URSS, a partir da Polônia, pelo polaco-americano Albert Bruce Sabin. Esta última, por suas vantagens como facilidade de aplicação; logística econômica que dispensava agulhas, seringas, algodão, álcool e demanda por especialistas na aplicação; capacidade de auferir o “efeito manada”, que isenta adultos da necessidade de vacinação; foi adotada em quase todo o planeta como imunizante oficial. Não que a outra fosse isenta de méritos. Esta primogênita havia reduzido drasticamente a incidência da doença nos EUA e em outros países que a aplicaram e ainda aplicam.

Alcançar cada rincão do gigante adormecido não era tarefa simples nas décadas 1950/60. Esta, entre outras razões, permitiu que se prolongasse ainda, por longo tempo, a infecção de crianças e adultos pela Poliomielite, no Brasil.

O ano de 1960 foi especialmente marcante pela independência de nada menos que 16 países africanos que alcançaram, a duras penas, a sua liberdade, coincidindo com os 16 anos que emancipariam, a partir de 1988, os brasileiros para o voto. E enquanto Jacqueline Boyer vencia, com a música Tom Pillibi, o festival Eurovisão de música, o Chile sofria o maior terremoto conhecido da história, e o nosso quadradinho, Brasília, é inaugurado. Nesse momento em que o mundo é agraciado com o nascimento de duas icônicas estrelas dos esportes: Ayrton Senna, nosso genial piloto de Fórmula 1; e Diego Maradona, fantástico atacante do futebol argentino, duas delicadas mocinhas, muito jovens ainda, inspiram populações e governos. Ambas tão belas quanto o sonho de cada pessoa que projeta um futuro de sucessos, alegrias e realizações para seus filhos. Ambas luminosas e disponíveis, com sobrenomes distintos, porém com a mesma alma de amor: as benfazejas vacinas Salk e Sabin.

Mário Sérgio

Mário Sérgio Rodrigues Ananias é Escritor, Palestrante, Gestor Público e ativista da causa PcD. Autor do livro Sobre Viver com Pólio.

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Site: Mário S. R. Ananias – Sobre Viver com Pólio (mariosrananias.com.br)

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17 Comments

  • Parabéns meu amigo.
    vc sempre trazendo excelentes informações de uma forma prazerosa de ser lida…

    • Obrigado, Senhor José Maia.

      São vivências e experiências que espero que possam ajudar a outras pessoas.

      Grande Abraço.

  • Quem inventou o avião, Santos Dumont ou os irmãos Wright???

    • Olá, meu amigo, Waldir.

      Os primeiros voos de um aeroplano ocorreram quase que simultaneamente, nos EUA e em Paris/FR.
      A diferença é que o projeto do brasileiro Santos Dummont, na França, voou com autopropulsão, sem o auxílio de esforço externo, como foi o caso dos irmãos.
      Considerando, no entanto, todo o poder de mídia e o fato de os americanos valorizarem seus compatriotas e heróis (completamente diferente do Brasil), a imagem midiática dos irmãos se sobrepõe.

  • Excelente artigo. Isso me faz lembrar a Pandemia de Covid e da imensidão de imbecis que negaram a vacina contra essa peste!

    • Obrigado, Senhor Francisco Teófilo.

      Também com a primeira vacina (Salk) contra a pólio. no evento de vacinação em massa nos EUA, em 1955, houve um grave problema que ajudou a criar um grupo contrário a qualquer imunização.
      Em 1957, o problema já estava superado, mas a cultura contra a vacina, não.

      Grande Abraço.

  • Texto esclarecedor sobre o surgimento dessas vacinas de extrema importância! Graças a ciência, hoje os casos foram reduzidos.
    Parabéns por esse texto informativo.

    • Obrigado, Senhor José Ribamar.

      Muitas pessoas, infelizmente, desconhecem o risco e os danos que a Pólio pode causar.

      Grande Abraço.

  • Delícia de ler. Leitura gostosa, cheia de curiosidades e conhecimento! Parabéns

    • Obrigado, Senhora José Maria Cristina.

      O conhecimento ajuda a transformar a vida para melhor.

      Grande Abraço.

  • A história de Ananias confunde-se com a minha, haja vista, fazemos aniversário na mesma data e, coincidentemente, nós dois fomos acometidos pela poliomielite aos 6 meses de idade e vivemos os dois superando os limites consequentes desse fato, o que nos ensinou a crescer e sermos mulher e homem de coragem, de fé e aguerridos, aprendendo e ensinando o que é viver apesar das dificuldades.

    • Obrigado, Senhora Rita.

      A pólio causou danos a pessoas em todos os Estados brasileiros, de Norte a Sul e trazer essas informações, como a Senhora também faz com galhardia, pode ser a diferença entre ter ou não uma deficiência grave para toda a vida.

      Grande Abraço.

  • Uma história não divulgada e muito importante

    • Obrigado, Senhor Alexandre.

      Esta coluna busca ajudar, pela experiência pessoal e fico feliz q.

      Grande Abraço.

    • Obrigado, Senhor Alexandre.

      Esta coluna busca ajudar, pela experiência pessoal. E fico feliz que esteja atingindo o propósito.

      Grande Abraço.

  • Sempre brilhante, esse escritor, igualmente, culto, sensível e carismático. Parabéns, sempre, Mário Sérgio!

    • Obrigado, Senhora Ana Cristina.

      Uma honra receber suas gentis considerações.

      Grande Abraço.

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