Um pedaço do Ceará

Wilson Ibiapina

O professor maranhense Luís Carlos Gomes, que tinha entre seus alunos na Universidade de Brasília  os físicos Rodger Rogério, Flávio Torres, Josué,   Dedé Evangelista e sua mulher Mazé, gostava de  dizer que o  mundo estava sendo invadido por marcianos e cearenses. Brincadeira
à parte, estamos mesmo espalhados em tudo quanto é país. Aqui no
Brasil, por exemplo,quem acha que  São Paulo está abarrotado de
cearenses não conhece o Acre. O deslocamento para o cantinho do Brasil,
que faz divisa com o Amazonas, Rondonia, Bolivia e Peru, começou bem
antes, no século dezoito. O historiador Arruda Furtado diz que foram
três as causas determinantes das migrações encaminhadas para o Acre.
A primeira, provocada pela seca. A segunda, a atração do eldorado
amazônico e a terceira, o espírito aventureiro do cearense. Naquela
ocasião, Fortaleza recebeu mais de 100 mil migrantes, chamados de
retirantes, número que quadruplicou a população da cidade, na época
de 25 mil pessoas.  O escritor Artur Reis registrou que  “Em março de
1879  já tinham entrado em Manaus mais de seis mil retirantes
cearenses. José Carvalho de Souza, que nasceu na serra da Meruoca, que
viveu mais de 130 anos, foi o cearense mais velho a habitar o Acre. O
território boliviano virou brasileiro depois que foi invadido por
seringueiros em busca de mais espaço para extrair látex. A mão de
obra necessária para a expansão da fronteira e o consequente aumento
das produção foi fornecida pelos cearenses que fugiam da seca e se
alistavam como soldados da borracha. A primeira insurreição acreana
foi em 1899. Liderados pelo cearense José de Carvalho, homens armados
obrigaram o delegado boliviano Moisés Santivanez a deixar o Acre, sem
precisarem dar um tiro.

Depois de duas outras   revoltas apareceu o gaúcho Plácido de Castro.
Na época com apenas 27 anos de idade, liderou uma forte revolução,
vencendo as tropas bolivianas, e proclamando, pela terceira e última
vez, o território independente do Acre.

O  território, que depois virou estado da federação, continua
habitado por cearenses e seus descendentes. Desse novo pedaço do Brasil
saíram pessoas importantes que se destacaram nacionalmente. Entre eles
o jornalista Armando Nogueira, o poeta Thiago de Melo, o médico Adib
Jatene, o coronel Jarbas Passarinho e o ambientalista Chico Mendes. Há
pouco tempo, o cineasta Pedro Jorge de Castro foi a Xapuri fazer uma
palestra. Num restaurante, o garçom puxou conversa:

– O Sr é  de onde mesmo?

– Sou do Ceará, respondeu o cineasta. E o garçom encerrou a conversa:
– Ah, pensei que fosse de fora.

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