Eu preciso de um SUV!

Mesmo? Por quê? “Porquê eu preciso de espaço! Meu Golf 2015 tá muito apertado para a família viajar para Caldas Novas uma vez por mês…” Ou então: “nosso segundo filho vai nascer, o sedã médio vai ficar pequeno…” Ou ainda: “passo por muito quebra mola, minha perua tá sofrendo…” 

Amigo, sinto te desapontar, mas você não precisa de um SUV. Você pode até querer um, mas não é uma necessidade. Se você saiu ontem da caverna, SUV vem do inglês Sport Utility Vehicle, ou veículo utilitário esportivo, no português bem claro.  

Os SUVs nasceram como uma espécie de cruzamento dos jipes com as picapes, nas décadas de 50 e 60. Por definição, SUVs são veículos que possuem boa capacidade offroad, o famoso fora de estrada, lama, barro, etc., além da capacidade de carga, tanto de pessoas quanto de bagagem ou afins. Percebe-se de cara que Renegade, Compass, HR-V, Tracker, T-Cross, Nivus, Captur, Duster, 2008, Ecosport, Corolla Cross e seus outros colegas não atendem esses requisitos. 

Estes citados acima são menos SUVs e mais crossovers, termo usado para descrever carros que ficam entre dois ou mais tipos de carrocerias, como peruas com capacidade offroad, ou minivans alongadas e baixas ou hatches com suspensão elevada.  

Nos últimos 30 anos as regras de segurança tornaram-se mais rígidas, principalmente na Europa. Com isso os carros ganharam corpo, ficaram mais largos e com a linha de cintura (aquela linha que liga a dianteira à traseira, passando perto das maçanetas) mais alta. Para entender essa evolução basta comparar a primeira e a última gerações de Corsa, Ka, Uno, Palio… Isso, aliado à evolução dos materiais e processos de fabricação nas décadas de 80, 90 e 2000 favoreceu o surgimento dos crossovers que hoje chamamos de SUV. Tornou-se mais fácil fabricar um carro com posição de dirigir elevada e considerável altura do solo, mas com suspensão e transmissão similares aos hatches e sedãs. A partir daí surgiram os SUVs modernos, que possuem dirigibilidade bem próxima dos sedãs, mas com espaço superior até às peruas, carregando facilmente sete pessoas mais bagagem. 

Antonio, então você está dizendo que todo mundo deveria ter um SUV? Não, pera aí… Não é bem assim… 

O que vem acontecendo nos últimos 10 anos é uma invasão dos SUVs modernos, e eles chegam quase sempre para substituir hatches e sedãs. “Sim, e qual o problema?” O problema meu amigo, aquilo que as montadoras não te contam na propaganda, é que são lançados SUVs compactos para substituir hatches e sedãs médios. Para a galera do fundão entender vou dar um exemplo prático: A Volkswagen vendia no Brasil o Golf hatch e perua. As versões mais completas, com motores 1.4 turbo em 2018 ficavam em torno de R$ 95 a R$ 105 mil. O Golf é um hatch médio, e sua perua é, por consequência, uma perua média. 

Para tapar o buraco que a morte da família Golf deixou nas lojas a VW lançou o T-Cross, na mesma faixa de preço do Golf. O T-Cross é um SUV moderno derivado do Virtus, um sedã pequeno, que por sua vez é derivado do Polo, um hatch pequeno… Novamente, no português bem claro: a VW vende um carro pequeno pelo preço de um carro médio, e faz você achar um excelente negócio! E o mercado engoliu, tanto que o T-Cross estreou vendendo DEZ VEZES MAIS que o Golf! 

Ok, eu concordo: SUVs são práticos. Os modernos são ainda mais, pois têm algumas das qualidades dos SUVs clássicos, como altura e posição de dirigir, aliadas às qualidades dos carros pequenos, como custo de manutenção, dirigibilidade, etc. SUVs são uma tendência mundial. O problema do mercado brasileiro é que eles estão “matando” carros maiores, sem redução no custo. Nosso costume à falta de opções impede a diversidade do mercado e, se as coisas continuarem nesse rumo, daqui a 15 anos a sua dúvida vai acabar sendo se você compra um SUV branco, prata ou preto. 

Na hora de comprar seu carro novo, seja ele zero km ou seminovo, não se atenha somente aos padrões e modas do mercado, pois eles mudam com frequência (falaremos sobre isso futuramente). Se preocupe com o tripé “quanto posso pagar – o que preciso – o que quero”. Vá nas lojas e ande nos carros. Não compre um hatch altinho apenas para cumprir uma “regra”. 

Mas, se você curte SUVs, recomendo que busque um clássico, de verdade, com suspensão alta e molenga. Posso até vender o meu, se a oferta for boa… 

Antonio Frauches, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo. 

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